Se eu fosse jovem e o sonho e a morte
fossem distantes como então,
Não partiria minh'alma ao meio,
guardando dela aqui um quinhão
Que tentaria o mundo das fadas
alcançar, mas sempre em vão
Enquanto a outra parte dela
andasse pela escuridão
Até curvar-se e dar três beijos
numa bela fada de maio
Que águias do céu arrancaria, com elas
pregando-me a um raio
E se meu coração fugisse dela,
se se desvencilhasse dela,
Num ninho de estrelas envolto
a fada ainda o traria com ela
Até que dele se cansasse,
quando enfarada o deixaria
Num rio de fogo onde meninos
o acabariam roubando um dia,
O iriam pegar, dele abusar,
puxando-o, deixando-o fino,
Partindo-o em quatro fios
p'ra encordoar algum violino.
E todo dia e toda noite
tocariam nele um madrigal
Que todos poria p'ra dançar
de tão estranho e sensual,
E o público rodopiaria,
saltitaria, cantaria em coro
Até que, com o olhar em brasa,
desabaria em rodas de ouro....
Mas isso foi há sessenta anos,
e jovem eu já não mais sou:
Para tocar além do sol
meu coração já alçou voo.
Com mente e olhar cheios de inveja,
admiro as almas isoladas
Que tal vento lunar não sentem,
alheias à Dança das Fadas,
Que não seduzem que não as ouve,
quem não se atreve a ser tão forte.
Quando eu era jovem, eu era um tolo.
Então me envolvam em sonho e morte.
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